Quarto álbum de estúdio do artista, o trabalho marca um novo momento em sua carreira, com roupagem mais pop e dançante
Com três álbuns lançados que trazem o MPB em sua essência, o cantor e compositor mineiro Arthur Melo apresenta agora o seu quarto ato com o disco “Mirantes Emocionais”, que inaugura um novo momento em sua carreira. “Muitas das faixas surgiram a partir de experimentações e colagens com o intuito de criar músicas mais animadas e coloridas”, conta o artista, que começou a compor o repertório do disco ainda em tempos pandêmicos. “O fato de estar sozinho nesse momento me deu liberdade para experimentar ideias de instrumentação, texturas, vozes e tudo mais que viesse na cabeça, sem ter um objetivo claro”, continua. O resultado foram 11 faixas que trazem elementos sonoros de estilos como indie pop, rock psicodélico, groove, samba, cumbia, além de forte inspiração oitentista. Ouça aqui.
Com produção musical assinada pelo próprio artista juntamente com Lucca Noacco, e mixagem por Kassin, o disco é o primeiro a ser acompanhado do Ministério da Consciência, banda/coletivo de amigos que acompanha o mineiro. “A ideia é que esse seja um grupo rotativo de artistas que colaboram comigo nas músicas e também na parte visual. Neste trabalho, as peças fundamentais do Ministério foram eu e Lucca na produção das músicas, e o Artur Souza assinando o projeto gráfico. Já no ao vivo, além de mim e do Lucca, a banda é formada por André Souza, Victor Diz e Bê Moura”, comenta.
Sobre os temas que permeiam o álbum, Arthur Melo percebeu, ao terminar de compor as canções, que havia ali questões recorrentes que tratavam sobre conexão/desconexão e pertencimento através de vários pontos de vista. “O nome ‘Mirantes Emocionais’ representa a ideia de perceber e analisar várias emoções e sentimentos, mas sem deixar eles te afetarem, sendo apenas um observador. Da mesma maneira como vamos a um mirante para ver a cidade de longe. Olhamos os bairros, as casas, as luzes e os carros, mas não estamos neles e nem vivendo eles, apenas observando”, explica.
Capa com arte de Davi de Melo Santos e design de Artur Souza
Capa
Este é o primeiro álbum da discografia de Arthur Melo cuja capa não é assinada pelo próprio artista, abrindo um novo caminho estético em relação aos seus trabalhos anteriores. Uma das referências foram os discos da gravadora RCA dos anos 70 e 80, que traziam a label e os créditos na própria capa. A arte é assinada por Davi de Melo Santos, artista de rua renomado de Belo Horizonte que atua desde 1998. Com projeto gráfico de Artur Souza, a ideia foi, com cada rosto e cor, representar uma emoção que contemplamos de longe. “É desta intenção que veio o nome do disco: Mirantes Emocionais. Ver algo à distância e não ser afetado internamente pelo que se observa, como se estivesse em um mirante.”
Faixa a faixa
O álbum começa com Me Lastimaste, uma vinheta que ambienta o ouvinte para entrar no universo do disco. “Ela veio muito da vontade de fazer algo que parecesse com um tango ou um vinil de 7 polegadas empoeirado que você acha em alguma feira e compra por curiosidade”, conta Arthur Melo.
Na sequência chega a canção Na Avenida com Benito, o segundo single a ser lançado e uma das faixas mais indie pop do repertório, com elementos do groove, do samba e da MPB, e com inspiração em Blood Orange e Devendra Banhart.
Dama da Noite é a faixa que seria a abertura do disco antes de Me Lastimaste, e que surgiu a partir das influências que Djavan exerceu no processo do disco, tanto na letra, quanto na abordagem musical. “A ideia era ter uma progressão de acordes que soasse misteriosa e ao mesmo tempo desse a sensação de início de uma nova aventura. Com violão e sintetizadores, essa é possivelmente a que mais une o indie pop com a MBP.”
A próxima música, Zói Fundo, é o single do disco, e teve início como uma bossa nova, mas ganhou outra roupagem com bateria eletrônica e tempo mais acelerado. “A letra vem do mesmo universo de simbolismo e livre interpretação que ‘Do Colostro ao Osso’. Essa faixa tem muitas referências do disco ‘Mestiço’, do Luiz Henrique, e do disco de estreia do Jards Macalé, de 1972, em que as baterias e as linhas de baixo são tortas, em tempos meio quebrados. Às vezes parece que a música vai trombar e ficar uma bagunça mas ela sempre segue na correria.”
De Toda Sorte foi criada com ares de free jazz, era composta por diferentes seções de vozes que respondiam umas às outras, guitarras com muito delay e reverb, e tinha por volta de 8 min. “A letra permaneceu com o mesmo tema, que é o vazio espiritual e a desconexão com o mundo físico, mas a versão final dos instrumentos ficou bem mais reduzida.”
A canção Maré surgiu a partir da simbiose de outras faixas: restos das sessões do disco “Adeus”, e a vontade de criar uma conexão com o lado B de “Mirantes Emocionais”, que se inicia com “Álvaro Almeida”. “A segunda parte de Maré é uma espécie de portal para uma outra estética. A maior influência é o ‘RAM’ do Daft Punk, um disco que mistura elementos de música eletrônica com elementos de gêneros dos anos 70 e 80.”
Com o portal aberto, chega a faixa Álvaro Almeida, que foi o primeiro single do álbum. “Essa música foi responsável por trazer esse caminho mais indie pop e anos 80 para o disco, com referências da banda Metrô, Rod Stewart e Peter Schilling.”
Princípios Organizadores apresenta influências da música latino-americana, principalmente da cumbia. “A letra é uma das que mais conversa com o tema de desconexão e pertencimento, que permeiam todo o disco. A segunda parte dessa canção mudou muito durante o processo. Primeiro era um grande solo de guitarra e synth, depois entrou a voz da Lis muito influenciada por ‘The Great Gig in The Sky’ do Pink Floyd e, por fim, o Kassin deu outra cara na mix, dando a voz mais características de textura e focando nas dinâmicas de delay e reverb dos instrumentos.”
Último single a antecipar o álbum, Do Colostro ao Osso traz referências do indie rock dos anos 2000 e do punk rock de bandas como Misfits, T-Rex e Velvet Underground.
Saídas, a penúltima música, é uma das canções remanescentes das sessões do disco “Adeus”. “Por isso talvez é que mais tenha a cara de MPB, bossa e samba. Funciona muito como faixa de encerramento por ser mais lenta e melancólica.”
O álbum chega ao fim com Aprendendo a Mentir, que, assim como “Me Lastimaste”, era uma transição entre faixas que não entraram no disco, mas que se tornou uma vinheta de encerramento. “A mensagem do mantra presente na música é um resumo de toda a temática do disco, e de certa maneira é um tanto absurdista, pois talvez procurando demais nunca vamos encontrar o que queremos.”
SOBRE ARTHUR MELO
Arthur Melo é um compositor, musicista e cantor mineiro. Começou a lançar músicas em 2017, com o EP Agosto, ainda muito voltado ao samba, a bossa nova e a MPB. No mesmo ano abriu o show de Liniker e os Caramelows e fez uma participação inesperada no show de Devendra Banhart, que o convidou ao palco. Desde então lançou três álbuns: Nhanderuvuçu (2018), Metanoia (2019) e Adeus (2020).
Após um hiato de três anos, voltou a editar canções em 2023, com a faixa synth-pop retrô Álvaro Almeida, pelo selo londrino Wonderfulsound e com mistura assinada pelo renomado produtor Kassin. O single foi o anúncio do novo álbum, que homenageia a divergente história musical do Brasil, ao mesmo tempo em que olha para o futuro e trilha novos caminhos, a consolidar o artista como um nome emergente do indie pop psicodélico. O músico é acompanhado de sua banda O Ministério da Consciência.