DANIEL BRITA, EXPLORA AS SONORIDADES NO ÁLBUM “BRITADEIRA”

Guitarrista apresenta um trabalho engenhoso, mas ao mesmo tempo espontâneo e repleto de sensações no disco solo lançado pelo selo Amplifica Records

Britadeira” pode desencadear diferentes reações, menos indiferença. Misturando instrumentos, ferramentas  do uso cotidiano (sim, isso mesmo, ferramentas, como uma parafusadeira eletrônica) e, às vezes vozes, incluindo um coro infantil,  a musicalidade que transborda do primeiro álbum solo de Daniel Brita rompe com qualquer linearidade sem se perder pelo caminho. Muito pelo contrário. Cada uma das 9 faixas entrega, à sua maneira, ritmo, balanço, ginga e, por que não, um pouco de caos. O disco é uma parceria do artista com a Amplifica Records. Clique aqui para conferir

Esse resultado só é possível porque o alquimista por trás desse trabalho sabe muito bem o que está fazendo. Produtor musical e compositor multi-instrumentista, Daniel Brita tem um extenso currículo profissional, com mais de 20 anos de atuação, dentro e fora dos palcos. Em “Britadeira”  o músico quis justamente extravasar seu potencial criativo, flertando com todas as (im)possibilidades: punk, jazz, groove, referências à música concreta e realmente ,incluindo o isolamento e a falta de recursos provocados pela pandemia, fazendo com que o artista se virasse com o que tinha e tem mãos: talento e uma tremenda criatividade!

“Eu comecei a tocar trombone com 12 anos de idade, depois aos 15 virei roqueiro. Escutei muita música clássica, punk, jazz e tudo isso está no disco, porque são influências de anos. E esse disco só saiu agora, porque eu sempre fui uma cara de banda e sou fascinado por banda. Banda de rock, banda de jazz… Eu gosto mais de trabalhar com banda. Mas daí a pandemia veio e eu já tinha essa vontade de fazer um disco só com as minhas músicas. A pandemia veio e me fez pensar e dar aquela ‘brecada’. Eu tinha acabado de comprar um equipamento para gravar em casa. Daí, eu vi a oportunidade. Eu acho que se não tivesse acontecido essa pandemia, eu não teria feito esse disco”, comenta Brita.

Sem coincidências, as músicas oferecem a luz e a escuridão, a cada single duplo um som afetivo/solar e outro lunar/agressivo. Nada em “Britadeira” é por acaso. Do erudito ao punk. Da banda de coreto ao pig soul/lobotomia, o álbum é um reflexo da vida eclética do artista sendo, de certa forma, instigado pela  pandemia. Não é novidade que com a liberdade restrita surgiu, em muitos de nós, o desejo de romper com o cotidiano linear. Para Daniel Brita, esse desejo foi  transformado em uma experiência sonora divertida, que abraça diferentes sentidos e revela a mente do artista, sem filtros e em toda sua criatividade.

O álbum foi produzido pela Amplifica Records,  conta participações especiais de Thiago França na faixa “Laser Beans“, que já chegou com clipe. Inspirada no jazz dos anos 70, a música é uma homenagem ao amigo de longa data, França, que tinha “Feijão” como apelido carinhoso. Alzira E. e Rubi, estão na faixa “Existe Amor”, música que faz um contraponto da opressão que a cidade de São Paulo produz sobre os mais vulneráveis. Fecham as participações  Evandro Camperom (voz) em “Eu Vi”, Manu Falleiros (saxofone Tenor e Saxofone Alto), em “Britadeira”. “Britadeira”, o disco, foi produzido, gravado, mixado e masterizado pelo próprio Daniel Brita, no famoso se vira nos 30.

Com uma sequência de sons com atritos e cheia de movimento, “Crocante”, por exemplo, é uma peça eletroacústica e abre o disco, que chega varrendo o que pode haver de ferrugem nos ouvidos, preparando o público para o que está por vir o que, diga-se de passagem, não é pouca coisa.

“Britadeira”, que dá nome ao trabalho, ilustra bem o conceito desse projeto. Jazz rápido, sem tema e totalmente livre, a faixa traz duas linhas de baixo, acústico e elétrico, resultando numa experiência acústica estéreo, com uma sonoridade diversa que se completa com trombone, trompete, dois saxes e, por último, parafusadeira elétrica, num flerte descompromissado com a música concreta. Um “manifesto ruidoso” nas palavras do próprio artista.

Já no campo das vozes, “Eu Vi“, foi o primeiro single lançado deste trabalho, com direto a um lyric video produzido pelo Shimeji Studio no Youtube e merece destaque por ser a faixa que revela o lado mais solar do trabalho. Com  vozes infantis que chegam como luzes para aquecer ainda mais o groove, brilhantemente  abraçado por elementos de percussão pernambucanos, particularmente presentes no cavalo marinho e no maracatu, a canção aborda um tema contemporâneo. Escrita em parceria com Evandro Camperom, a letra fala da percepção do mundo através da tela do celular, discorrendo o significado dessa perspectiva para a nossa vida.

Por fim, rompendo em definitivo com a luz e se jogando numa proposta muito mais sombria e pesada, Vossa Excelência representa, definitivamente, a porção punk presente na alma de Brita. Se a crítica explícita ao universo político, desconstrutivo por si próprio nas vozes de renomados “representantes do povo”,  dispensa explicações, a música, por sua vez, merece ser destacada por romper com o seu próprio DNA.  Subvertendo o próprio punk, sabidamente subversivo por natureza, o artista se utilizou de  escala de tons inteiros, muito sofisticada para esse estilo, dando origem a uma peça musical nada  óbvia, barulhenta, como todo punk gosta.