A pernambucana Isadora Melo está presente em diversos discos da cena recifense contemporânea, cruzando fronteiras em participações na televisão e no teatro
A cantora e atriz lançou seu primeiro EP (“Isadora Melo”, 2014), a artista foi convidada para compor o time do projeto “Cantoras do Brasil”, de Jacob Solitrenick.
À convite do parceiro Juliano Holanda, que assinou a produção musical do EP e do disco “Vestuário” (2016), Isadora Melo participou, em 2015, da trilha sonora da minissérie global “Amorteamo”. A colaboração, que inicialmente seria na interpretação de algumas músicas, culminou com a artista sendo integrada ao elenco da série.
Na sequência, recebeu o convite do diretor João Falcão para integrar o musical “Gabriela”, baseado na obra de Jorge Amado, que ficou em cartaz entre junho e agosto de 2016, no Teatro Cetip, em São Paulo.
“Comecei a pensar em Anagrama, em 2018. Já tinha um álbum de intérprete, o ´Vestuário´, lançado em 2016. Eu não pensava em escrever músicas como ofício antes disso. Nesse período protagonizei um espetáculo de João Falcão, pensado especialmente pra mim, no repertório que eu tinha, e estreamos no Recife. Também entrei em turnê com o Cordel do Fogo Encantado, montei o espetáculo ´A Dita Curva´, com 10 mulheres criadoras, compositoras e intérpretes. Troquei muito com João Falcão, com os meninos do Cordel, e essas 10 mulheres pernambucanas incríveis. Resolvi que queria ser autora no meu próximo trabalho. De intérprete, comecei a escrever e musicar minhas ideias, encontrei parcerias iluminadas, com quem adquiri confiança e entendi o quanto era importante fazer minhas próprias canções, minhas ideias de mulher preta nascida no Jiquiá, zona oeste de Recife. E além de tudo isso, ganhei confiança de produzir esse trabalho novo. Os 3 músicos que chamei pra construir a sonoridade são Rafael Marques, músico, compositor e arranjador talentoso, Henrique Albino, conhecido por seu trabalho com frevo e com o que ele chama de ´música tronxa´, e Lucas dos Prazeres, diretamente do Morro da Conceição, artista surpreendente”, conta Isadora. Clique aqui para conferir o disco
Faixa a Faixa por Isadora Melo
1 – Proposta para um estado crítico (Isadora Melo)
Surgiu no final das gravações do disco. Pensei que o disco precisava de uma vinheta, uma abertura, um prefácio. Resumi toda intenção do disco no mantra “eu cuido de você e você cuida de mim”. Uma proposta para tempos de violência e golpes diários, uma chamada, um levante.
2 – Não ando bem (Isadora Melo e Marcello Rangel)
Assumindo que os tempos não são fáceis, “Não ando bem” foi a primeira composição do disco a nascer. Fiz o refrão numa hora de raiva (tantas raivas, notícias e setas), achei que essa canção tinha a cara de Marcello Rangel, amigo de longa data e compositor talentoso. Marcello me enviou a ideia do A de pronto. Surgia nossa primeira parceria.
3 – Anagrama (Phillipe Wolnney, Isadora Melo e Lira)
Folheando o instagram (o meu perfil segue muites poetas) encontrei essa poesia de Phillipe, que dizia, em meio a notícia do crime da Vale em Brumadinho, “vale o poema que se derrama, o que significa ter na vida o anagrama Alma e Lama?” Achei genial, pedi permissão pra musicar e convidei Lira pra completar a parceria, que no meio da nossa turnê, escreveu vários versos pra integrar na composição. Acordamos, por fim, nos versos que ficaram. Capotas polares derretendo, crises ambientais, golpes a democracia, facilidades em adquirir armas, muito assunto, mas a poesia é gênia e consegue trazer tudo à tona.
4 – Sorriso de faca (Martins)
Lembrei dessa composição que Martins disse que fez pra que eu cantasse. Achei que dizia tudo sobre esse tempo, as pequenas violências nas relações, os abraços com sorriso de faca. E é uma composição linda de um compositor que amo também.
5 – Para os prédios (Juliano Holanda)
Tava na casa de Juliano quando ele compôs essa. Na época ficou no ar que era sobre um fim de relação. Desde sempre cantei como se fosse sobre se impor e se achar. Uma composição forte de um poeta incrível.
6 – Quanto mais (Isadora Melo)
Essa música escrevi na intenção de mantra também. Acho que há uma intenção de dança e de mantra nesse trabalho inteiro. Quantas quedas e quantos levantes. Precisamos levantar, precisamos sentir o balanço da rede, precisamos sentir o ar bom.
7 – Habite-se (Juliano Holanda)
“Habite-se” também é uma canção que ouvi Juliano tocar num sarau, se não me engano, na casa de Martins. Me tocou de pronto. No disco fizemos como frevo e mais uma vez vem como dança o convite pra se habitar e criar portas, de buscar a presença em tempos de dispersão.
8 – Um lugar (Rafael Marques e Martins)
“Um lugar” surgiu na minha casa. Meu companheiro, Rafael, escreveu essa melodia pra que Martins pusesse letra. Quando veio a letra tudo se ajeitou. Desapegar de antigos métodos e vícios pra que se apresente algo novo. A intenção é selar esse acordo, construído ao longo do álbum, com esse convite calmo e bonito.
9 – Antes de ir (Fred Cajueiro e Isadora Melo)
“Antes de ir” veio da letra do poeta Fred Caju, poeta talentoso e mais um encontro de redes sociais. Musiquei a poesia e é nossa despedida/esperança. Pés de arruda no quintal, um desejo para que tudo de bom entre e tenha espaço, num tempo não muito longe.