Álbum reúne os povos Guarani Mbya, Tikuna, Xakriabá, Guarani Kaiowá e Huni Kuin
Resistência. Resistência da tradição, da língua nativa, da espiritualidade. Essas são as mensagens que Owerá, aos 21 anos, transmite no seu segundo disco, Mbaraeté, lançado hoje (19) em uma parceria com a Natura Musical. Com nove faixas, o álbum é uma jornada com começo, meio e fim que se desenrola em uma narrativa cheia de revolta, dor, mas, também, com muito amor, acolhimento e paz. Com uma mensagem bastante direta, em letras que misturam o português e o guarani, língua mãe do artista, Owerá evoca a resistência, palavra, inclusive que é a tradução do título do disco. Ao seu lado, estão seus familiares, Pará Retê, companheira e parceira musical, Tupã, seu filho, Olívio Jekupé, o pai, e, além deles, o artista também convidou para participar do álbum Kelvin Mbarete e Bruno Veron (Brô Mc’s), Célia Xakriabá, Djuena Tikuna, Txana Ibã e OzGuarani. Ouça aqui.
Este é um disco feito para os povos indígenas, a resistência é um chamado. Os trechos em guarani não terão tradução disponível, ou seja, somente quem conhece a língua vai saber o que, de fato, Owerá está dizendo.
Além disso, é uma obra que traz para o primeiro plano a diversidade de povos existentes no Brasil, pois reúne as etnias Guarani Mbyá, localizada no sul da cidade São Paulo, Huni Kuin e Tikuna, da Amazônia, Xakriabá, de Minas Gerais, e também Guarani Kaiowá, que está em uma das regiões mais violentas do país, Mato Grosso do Sul.
Até o momento, os singles já revelados são A Transformação, oitava faixa do álbum, que tem participação de Txaná Ibã e seus companheiros do coletivo Balanço da Floresta, Samakey e Yube – o clipe, co-dirigido por Owerá e Diana Freixo pode ser assistido aqui. Além disso, Owerá também lançou a faixa-título do disco, Mbaraeté, que tem a participação de sua companheira de vida e musical, Pará Retê. Essa canção teve um trecho conhecido no início do ano, com o lançamento do projeto 2022, da HBOMax, no qual Owerá se apresenta cantando ao lado de Caetano Veloso.
Ao longo de dois anos, Owerá e Rod Krieger, seu parceiro de produção, trabalharam à distância na criação das faixas, não só devido à pandemia, mas também porque entre eles existe um oceano de distância. Enquanto Owerá vive na Aldeia Krukutu, em São Paulo, o brasileiro Rod Krieger vive em uma aldeia no interior de Leiria, em Portugal. “Foi uma experiência de muita conexão, não tínhamos ideia de como poderia dar certo, mas deu. Desde o início, cada etapa foi muito importante. Aprendi muito, só tenho a agradecer”, comenta Rod. Owerá também comenta sobre a troca que teve com Rod: “a luta não é só dos povos indígenas. A luta pela natureza é de todos. Agora chegou a hora das pessoas nos ouvirem. Parceiros como o Rod são pontes que nos ajudam a espalhar a mensagem. Precisamos dessa união para nos fortalecer. E hoje, depois de toda a experiência, eu me considero um produtor musical. Aprendi muito. Com certeza, abriu um novo universo pra mim”.
O álbum foi gravado na Aldeia Krukutu, em São Paulo – Brasil e no estúdio Magic Beans, em Leiria – Portugal. Já as vozes foram registradas entre a Aldeia Krukutu, a Terra Indígena Xakriabá, em Minas Gerais, o estúdio Ayvú Records, na Aldeia do Bororó, no Mato Grosso do Sul, o estúdio Bico do Corvo, em Diadema, SP e o estúdio Legume, em Curitiba, PR.
Desde que deu início à carreira de músico/rapper, Owerá vem fazendo o que ele chama de Rap Nativo que nada mais é do que a manifestação do Rap em uma língua nativa, no caso a Guarani Mbya, em um ritmo que traz o beat embalado por sons da natureza e outros instrumentos tradicionais da cultura, como o violão, djembé e o maracá. “O Rap Nativo é uma raíz do Rap Indígena. Nós falamos diretamente da nossa Terra, do nosso Território, com a nossa Língua, que resiste há mais de 500 anos para se manter viva. É uma luta diária que enfrentamos nas nossas terras. O Rap Nativo nasce daí, desse espaço de luta, mas, também, de celebração da nossa cultura, dos rituais e da nossa tradição”, explica Owerá.
O projeto de Mbaraeté foi selecionado pelo programa Natura Musical, através do Edital 2020, ao lado de nomes como Linn da Quebrada, Bia Ferreira, Juçara Marçal e Rico Dalasam. Ao longo de 17 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para mais de 150 projetos no âmbito nacional, como Lia de Itamaracá, Mariana Aydar, Jards Macalé e Elza Soares. “Nós acreditamos no impacto transformador que a música pode ter no mundo. E os artistas, bandas e projetos de fomento à cena selecionados pelo edital Natura Musical têm essa potência de mobilizar o público na construção de um mundo mais bonito, cada vez mais plural, inclusivo e sustentável”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding.