Com 14 faixas, o segundo disco de Antínoo conta com a produção de Adriano Cintra
“Certa vez o escritor Ruy Castro disse que a mulher canta para passar recado. E é exatamente isso que estou fazendo. Quando escrevo e coloco para fora todo esse emaranhado de ideias em forma de canções, estou passando o meu recado em cada palavra, acorde e melodia”, conta Antínoo sobre o que inspirou o álbum que acaba de lançar: Antínoo Passa o Recado, o segundo de sua carreira. Com produção musical de Adriano Cintra (ex-Cansei de Ser Sexy), o trabalho é composto por 14 faixas que gravitam entre diversos gêneros como pop, samba-reggae, house, rock e disco. Ouça aqui.
Radicado em São Paulo, o artista goiano compõe letras desde a adolescência, e algumas delas estão reunidas neste álbum que reflete a sua história pessoal com a metrópole paulistana. “Sempre guardei essas letras como memórias de cada fase da minha vida, com a intenção de transformá-las em música no futuro. Elas foram reunidas e integradas no conceito do disco. Com esse trabalho me apresento como um artista mais maduro, confiante e seguro da estética e poesia que desejo explorar”, divide.
A sonoridade do disco, por sua vez, foi enriquecida e ganhou contornos a partir das colaborações que integraram o projeto. Sobre a experiência de produzir o disco de Antínoo, Adriano Cintra comenta: “Nossa sinergia musical é tão forte que sempre existe espaço para explorar novas propostas. Essa abertura a inovações nos permite alcançar resultados que nos deixam mutuamente satisfeitos e entusiasmados”. Também participaram Naíra Debértolis, fundadora e líder da banda Mulamba; e Vinicius Silva, líder de percussão do afro-bloco Ilê Aiyê.
A capa do álbum é o encontro de diversas referências trazidas pelo artista, como o álbum “London Calling”, do The Clash, e o livro “Quem Quebrou Meu Violão”, de Sérgio Ricardo. “O que conecta essas duas obras é a imagem de personagens destruindo seus instrumentos musicais, uma cena impactante. No meu caso, o teclado é o instrumento central. Comecei com um Yamaha PSR-E343, com o qual compus todas as canções do meu disco. Por ser um instrumento eletrônico, a maneira de destruí-lo seria lançá-lo na água, simbolizando não só a destruição, mas também a desconstrução. Isso reflete minha abordagem musical de desmontar e reconstruir o que já existe, buscando uma nova arquitetura sonora”, conta Antínoo.
“Além disso, há a simbologia do batismo cristão, que envolve renascimento ao emergir da água. Meu nome original é Diou, e ao me reinventar como Antínoo, experimentei meu próprio renascimento. A ideia de me ver submerso e emergindo na água com o teclado ressoa profundamente com essa transformação pessoal e artística”, continua.
Para a realização da capa, Victor Affaro foi responsável pela fotografia, Marcelo Calenda pela edição, e Estelle Flores pelo design gráfico.
Faixa a faixa
O álbum começa com Intro, um áudio sampleado do filme “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, um marco na história do cinema. “Esse filme é um testemunho eloquente da capacidade do Brasil de criar arte de calibre mundial. A cena em que Jardel Filho proclama sua necessidade de cantar ressoa profundamente comigo – sinto a mesma urgência em minha vida. Acredito que cantar transcende a simples atividade artística, sendo tão fundamental para a natureza humana quanto a fala. É uma forma de expressão que liberta, cura e conecta. Cantar é uma celebração da vida, um eco da nossa humanidade compartilhada”, comenta Antínoo.
Primeiro single a ser lançado, a faixa Púrpura (que teve clipe) mistura a percussão do samba-reggae, com elementos da house music em uma narrativa sobre vingança. “Essa é uma das, senão a minha canção preferida. Ela não tem um alvo específico, não é sobre um rapaz, mas sim sobre vários pequenos fragmentos de um mosaico formado por experiências que me ensinaram a lidar com o amor e com a dor.”
A sonoridade do dub se apresenta na música Diz, a terceira do disco. Sobre a canção, o artista comenta: “Nossos desejos são nossas línguas, palavras que somos incapazes de desaprender. Podemos aprender muitas outras novas, mas somos reféns das que são inesquecíveis. Essa música é sobre desejar alguém que não queremos desejar, uma vontade que não podemos controlar”.
O álbum segue com Insano, faixa escrita durante a pandemia, período em que a tecnologia se tornou o principal meio de nossas interações sociais. “Durante esse tempo, vivenciei o término de um relacionamento, um evento pessoal que coincidiu com a sensação global de incerteza e um possível ‘fim do mundo’. Foi essa conjunção de uma experiência pessoal dolorosa com o cenário mundial caótico que me inspirou a criar.”
Em Boite, o artista leva o clima do álbum para a pista de dança. “Eu cresci na noite, acompanhando meus pais em bares por Goiânia. Na adolescência frequentei muitas boates gays, e até hoje não há lugar em que me sinta mais à vontade e livre do que na pista de dança. Essa canção é sobre amar e se entregar, estar disposto a perder tudo pela liberdade de poder dançar.”
Para homenagear pessoas trans e travestis, o artista compôs Fazer Pista, citando o nome de personalidades como Cláudia Wonder, Brenda Lee e Andreia de Maio. “Considero essas pessoas seres míticos que estão na linha de frente da luta contra as concepções ultrapassadas de gênero e sexualidade. Rainhas e guerreiras responsáveis pelo o que há de mais rico na cultura LGBTQIA+”.
Na sequência, a música Ilusão continua as reflexões do álbum sobre a tecnologia e como ela nos influencia. “Fiz essa canção na mesma época em que Caetano Veloso lançou ‘Anjos Tronchos’, e percebo que abordamos uma questão similar, porém sob ângulos distintos. Caetano oferece uma interpretação filosófica sobre os desafios impostos pelas novas tecnologias. Eu escolhi explorar esse tema através do prisma da minha experiência pessoal. A canção questiona como as grandes corporações tecnológicas não só intermediam minhas relações íntimas, mas também influenciam e moldam minha personalidade e psique. É uma tentativa de compreender e articular as nuances dessa relação intrincada entre o indivíduo e a tecnologia na era moderna.”
Em Artificial, o artista foi inspirado pelo Chat GPT e suas possibilidades. “Ao longo da história, artistas encontraram inspiração em musas variadas – mulheres, homens, cidades, deidades, até animais. No entanto, nunca imaginei que um programa de computador se tornaria minha fonte de inspiração. O Chat GPT é a musa desta música, representando uma reflexão sobre uma das mais fascinantes e intrigantes invenções humanas que tive a chance de explorar. Esta música é um tributo à potencialidade positiva da tecnologia, destacando o quanto podemos alcançar se soubermos utilizá-la de maneira ética e responsável.”
Vampiro é o primeiro cover a aparecer no disco, trazendo uma nova roupagem à canção de Jorge Mautner. “Sou apaixonado tanto pela versão de Jorge Mautner quanto pela interpretação de Caetano Veloso. A letra dessa música ressoa profundamente comigo, e senti uma conexão tão forte que simplesmente não podia deixar de gravar minha própria versão. Sempre percebi um potencial dançante nessa canção, um aspecto que consegui explorar ao trabalhar com Adriano.”
O disco continua com São Paula, que referencia a cidade em que o artista é radicado. “Não devemos esquecer que o Modernismo, nascido nas florestas amazônicas, floresceu aqui, em São Paulo, assim como a Tropicália, fruto da colaboração entre baianos e paulistas. E a Bossa Nova, uma ideia de João Gilberto, baiano de origem, concebida em Minas Gerais e que germinou no Rio de Janeiro, teve sua grandeza reconhecida primeiramente nesta cidade. Um lugar onde os sonhos se realizam e as frustrações também. Onde as pessoas amam, trabalham, bebem, sonham, choram e vivem.”
A próxima faixa, Esquema, reflete sobre o Brasil e suas complexidades sociais. “Com o passar dos anos, comecei a perceber como diferentes esquemas mantêm as pessoas em suas respectivas classes sociais e posições de poder, alterando tudo para, no fim, não mudar nada. Na letra, inseri uma ironia para destacar a mentalidade de ‘salve-se quem puder’ que prevalece no país. A música questiona a ideia de dois pesos e duas medidas tão comum em avaliar tudo no Brasil”.
Na música Desobediência, Antínoo narra sua história por meio de uma série de palavras colocadas de maneira aparentemente aleatória, mas que se conectam com sua vida. “Esta canção é a mais autobiográfica do álbum, na qual mergulho nos nomes das personalidades que me influenciaram ao longo da vida, assim como em momentos e experiências marcantes que vivenciei. Ela é um retrato das coisas que compõem meu dia a dia, abrangendo tanto o ordinário quanto o extraordinário. A música é um tributo às minhas referências mais queridas, aos lugares e pessoas que foram faróis em minha jornada, iluminando os caminhos que escolhi seguir.”
O segundo cover aparece na reta final do disco, com Andy’s Chest, de Lou Reed. “Quando tinha 16 anos, tatuei a assinatura de Andy Warhol no meu braço esquerdo, refletindo minha admiração por ele e por Marcel Duchamp, que considero os maiores artistas plásticos do século XX. Eles revolucionaram o conceito de arte, uma façanha um tanto rara quanto monumental. Esta canção, de outro ídolo meu, Lou Reed, aborda o incidente em que Warhol foi baleado no peito, um momento muito impactante que inspirou Lou Reed a fazer essa canção.”
E para fechar o álbum, Antínoo criou uma versão de Arrombou a Festa III, de autoria de Rita Lee e Paulo Coelho. “De tempos em tempos essa canção precisa ser atualizada para o contexto mais recente. Fiz essa releitura, dessa brilhante criação. Se alguém ficar sentido com essa música, saiba que essa foi exatamente a minha intenção.”
Ficha Técnica
Antínoo Passa o Recado, um disco de Antínoo, 2024
1. Intro
Sample do filme “Terra em Transe” de Glauber Rocha
Produção musical: Adriano Cintra
Percussão: Jonathan Franco & Vinicius Silva
2. Púrpura
Composição: Antínoo, Arnaldo Passos & Monsueto Menezes
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Bateria: Caro Pisco
Guitarra: Magí Batalla
Percussão: Jonathan Franco & Vinicius Silva
Piano: Rodrigo Cunha
Vocais Adicionais: Letícia Soares
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
3. Diz
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Bateria: Caro Pisco
Guitarra: Magí Batalla
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
4. Insano
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Bateria: Caro Pisco
Piano: Rodrigo Cunha
Vocais Adicionais: Letícia Soares
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
5. Boite
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
6. Fazer Pista
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Piano: Rodrigo Cunha
Vocais Adicionais: Flávia Teles, Julia Miranda & Hanae Oguino
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
7. Ilusão
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
8. Artificial
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
9. Vampiro
Composição: Jorge Mautner
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
10. São Paula
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Piano: Antínoo
Vocais Adicionais: Letícia Soares
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
11. Esquema
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Bateria: Caro Pisco
Guitarra: Magí Batalla
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
12. Desobediência
Composição: Antínoo
Produção musical: Adriano Cintra
Violão: Magí Batalla
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
13. Andy’s Chest
Composição: Lou Reed
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Bateria: Caro Pisco
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
14. Arrombou a Festa III
Composição: Antínoo, Paulo Coelho & Rita Lee
Produção musical: Adriano Cintra
Baixo: Naíra Debértolis
Bateria: Caro Pisco
Guitarra: Magí Batalla
Piano: Rodrigo Cunha
Vocais Adicionais: Letícia Soares
Mixagem e Masterização: Fernando Sobreira
Capa
Beleza & Maquiagem: Karoly
Fotografia: Victor Affaro
Edição: Marcelo Calenda
Design: Estelle Flores
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Sobre o Artista
Antínoo é um artista brasileiro, radicado em São Paulo. Nascido em Goiânia, Goiás, interior do Brasil, começou a escrever suas primeiras músicas ainda adolescente, influenciado por movimentos musicais brasileiros como a Bossa Nova e o Tropicalismo. Anos depois, formou-se em Estudos da Música Popular e cresceu usando a música como linguagem para expressar suas experiências e reflexões sobre o mundo e as relações humanas.
Em 2020, Antínoo lança seu primeiro trabalho autoral, o álbum “O Sol Nasceu Pra Todos”, com oito faixas, um disco bastante variado, explorando diferentes gêneros, mas visando elementos da Música Popular Brasileira como base de criação. Além da estética da música brasileira como espinha dorsal do álbum, Antínoo também explorou gêneros musicais do Norte Global, como Synth-pop, New Wave e Art Rock.
O cantor e compositor lançou uma versão ao vivo do seu primeiro no Estúdio Som Livre em 2021, uma performance que trouxe novos arranjos com uma banda formada por seis mulheres.
Dotado de espírito inquieto, em 2022 Antínoo lançou o Extended Play “O Sol Nasceu Pra Todos_RAVEZITADO“, com versões remix das músicas de seu álbum de estreia assinadas por renomados DJs brasileiros da cena de House e Techno – cada faixa ganhou um videoclipe psicodélico em linguagem VR. Em 2023, além do single duplo, também divulgou as canções “2016 (Riot”) e “O Som do Amor (Psicotrópico”).
Ainda em 2023, Antínoo apresentou suas versões de canções das artistas Marisa Monte e Yoko Ono, explorando em cada uma delas uma vertente diferente de sua identidade musical: a bossa nova e a música eletrônica. Como primeiro single do disco “Antínoo Passa o Recado”, lançou “Púrpura”. O álbum conta com produção musical de Adriano Cintra, ex-integrante do CSS, e explora variados gêneros, tais como samba-reggae, house music, dub, rock e disco.