Um dos expoentes do rap nacional, César MC respondeu a algumas perguntinhas que enviamos sobre o seu trabalho, a décima quarta edição do poesia acústica, novos projetos e muito mais. O rapper capixaba natural do Morro do Quadrado em Vitória(ES) vem se destacando nos últimos anos pelas rimas ácidas, trazendo a essência do rap raiz. Confere aí que tá incrível!
Strawberry Musical: Qual o seu sentimento ao participar da décima quarta edição do Poesia Acústica?
César Mc: Eu acredito que o projeto sempre promove um encontro, né? Que é muito único e traz muito aprendizado. São grandes artistas, cada um com as suas singularidades, cada um com uma proposta, com uma ideia e estética bem diferentes. E eu acredito que o que há de bem intrigante ali e desafiador no projeto é literalmente dentro dessa diversidade a gente produzir algo singular. Então esse coletivo provoca algo muito Brasil, que é trazer algo singular, dentro do plural, dentro do diferente. Então é uma gratidão muito grande estar ao lado de artistas incríveis e conseguir contribuir dentro dessa proposta com aquilo que eu tenho de singular. Foi para mim muito gratificante mesmo.
Strawberry Musical: Qual foi o elemento que você quis trazer de diferente para a sua parte nessa décima quarta edição, em relação às suas participações anteriores?
César Mc: Eu acredito que isso tem muito a ver também com a estética atual. Quando a gente vai olhando as outras participações, sempre tem um flerte com aquilo que está acontecendo no momento, até porque nos últimos anos, a cena vem se renovando sonoramente com muita velocidade. Então nas edições que eu participei, sempre tinha alguma estética nova tendo mais ênfase dentro daquilo que o poesia acústica mantém como proposta, como acústico, como uma música Love Song e que também pode se abrir para vários temas. Eu sempre tento flertar e entrar nessas estéticas novas. Hoje, com essa explosão de novas frequências, a gente tem muita textura diferente. É a explosão do Trap com a chegada de Drill. Muita coisa acontecendo. E ao mesmo tempo, ao redor do mundo, a gente tem em cada local um pouco dessas somas! Eu acho que o Rap é muito único nessa capacidade de sempre se adaptar e se tornar uma terceira coisa na união com um outro gênero, então há uma infinita possibilidade, onde o rap consegue impor a sua característica, mas ao mesmo tempo mergulhar em uma nova sonoridade. Então dentro da proposta do poesia acústico, do Love Song, que há anos foi novidade aqui no Brasil e que vai se renovando, naturalmente eu iria acompanhar um pouco disso que está mais atual. Então eu tentei trazer essa textura nova, um pouco do Trap, do Drill, que é bem sutil de se perceber, mas que também respeita aquele universo do acústico.
Strawberry Musical: O que você pensa em relação a atual cena do rap nacional? Acredita que o rap vive atualmente o melhor momento?
César Mc: Partindo do ponto de vista da popularidade, da expansão do gênero e também do acesso. A cultura hip hop e a música Rap também dentro desse elemento da cultura, eu acredito que de fato é algo muito otimista. É muito positivo. É uma explosão onde todas essas coisas chegam. Muitos jovens mudando a vida através da música, acessando coisas e lugares e principalmente despertando outros olhares para a própria situação de vida, construindo um projeto de vida mais otimista diante daquilo que eles já nascem refém de tudo. Isso é Rap. Tudo isso é ir para cima e reescrever a própria história. Então, nesse ponto de vista de expansão, é muito otimista. Agora, naturalmente, o desafio de expandir é fazer isso dentro daquilo que se conecta com a essência. Claro que a gente não pode nichar ou definir o que é o que não é, mas é perceptível o que são os elementos do Hip Hop e aquilo que fincou essa bandeira aqui no Brasil, os pilares, as provocações e a contribuição para o Brasil à nível histórico e a contribuição do Hip Hop à nível mundial, com as causas e até com o conhecimento. Essas provocações, que não são limitações, mas são pilares. Se eles não se difundem tanto quanto essas camadas que naturalmente se tornam maiores,a gente acaba projetando algo um pouco distorcido. Eu não quero trazer um tom de limitação. Mas por exemplo, se a gente tá falando de uma cultura Negra, e que com muito esforço se tornou um braço de muitas lutas e muitas causas, quando a gente entra em discussões de rap e uma música sobre racismo se torna repetitiva, comentário em página de rap falando que “pô, de novo esse papo?”, a gente percebe que existe uma certa distância daquilo que era a essência, para esse desafio de se difundir. Então eu não gosto de trazer um olhar que pisa em cima do natural. É muito bom expandir, mas a gente tá nesse desafio. Acho que o momento, acima de tudo, eu não diria bom ou ruim, eu diria desafiador. Porque existem muitos pilares que precisam desaguar tanto quanto esse crescimento dessas camadas da música Rap que é um dos elementos dentro da cultura.
“Muitos jovens mudando a vida através da música, acessando coisas e lugares e principalmente despertando outros olhares para a própria situação de vida, construindo um projeto de vida mais otimista diante daquilo que eles já nascem refém de tudo. Isso é Rap.”
Strawberry Musical: Tem projeto novo vindo por aí?
César Mc: Tem projeto novo vindo. Poucas informações eu posso dar, mas o que eu posso dizer, é que é completamente diferente de tudo que eu já fiz e talvez o passo mais ousado de toda a minha carreira! Eu tô num momento muito específico da vida, e esse desafio de cantar o que vive, me provoca cantar essa singularidade.
Strawberry Musical: Qual festival nacional tem vontade de se apresentar?
César Mc: Os festivais sempre são oportunidades da gente conseguir trazer o melhor do nosso show e poder ter uma troca com um público maior, também conhecer e entender como a música é recebida pelas pessoas. Quando a gente está no estúdio, vivendo, escrevendo pelas ruas, fazendo a canção, fazendo a obra de arte, a gente às vezes não consegue ter dimensão da maneira que isso afeta as pessoas. E olhar no olho das pessoas ali na música, ver pessoas descobrindo pela primeira vez e outras indo lá por causa da música, é sempre uma coisa que o artista sonha sabe e eu ainda não sou tão frequente nos festivais. Não tenho tido tanta vazão nesses espaços. Gostaria muito de ter, quero estar mais presente nesse circuito e gostaria de me apresentar na maioria deles. Ainda é novo para mim essa questão de estar presente nos festivais. Ainda tô buscando conseguir participar.
Strawberry Musical: Qual mensagem deixaria para a galera que curte o seu som?
César Mc: Primeiramente, gratidão. A arte não é nossa. Quando a gente coloca no mundo, ela vira daqueles que se identificam com ela. Então a gratidão é o que eu preciso deixar de verdade. Gostaria de dizer que por mais low profile que eu seja, coisas estão sendo construídas para quem curte meu trampo. Saibam que vem uma coisa incrível pela frente. Quero dizer também para que independente daquilo que você propõe como um sonho, como visão, ouse acreditar nessa singularidade, ouse acreditar em você mesmo para além dessa multidão de tendências que a gente vê. Arrisque ser o seu diferencial mesmo! Essa é a mensagem que eu quero deixar, essa é a mensagem que eu também mando todos os dias pra mim. Gratidão! E desejo todo o impulso necessário a vocês, que assim como eu são sonhadores. Isso aqui não é um papo de artista para fã, to falando aqui de sonhador para sonhador!
