Com imagens tropicais de “Barra de Jangada”, bairro em que viveu na infância com a família, artista celebra suas memórias afetivas
Em 2020, alto da pandemia, Tagore perdeu seu pai, o artista plástico Fernando Suassuna e iniciou um processo de luto, até então inédito para o cantor e compositor recifense. “Acredito que a letra vem diretamente desse processo de atravessar um momento super difícil, chegar no fundo do poço e arranjar força na natureza, no amor, no mar, pra levantar a cabeça e seguir a trilha da existência”, comenta Tagore.
A experiência se transformou em música e num disco previsto para sair em 2024. O single já acompanhado de clipe “Barra de Jangada“ é então uma homenagem ao pai, a Alceu Valença e a Paulo Rafael (Ave Sangria), os últimos dois eram parceiros musicais de anos. Com imagens tropicais tiradas da internet, Tagore buscou trazer um pouco da nostalgia de relembrar o bairro Barra de Jangada, onde viveu com a família nos anos 90.
Impulsionada por essas memórias afetivas, a sonoridade deste novo trabalho terminou se voltando para essa década trazendo artistas que estão no imaginário dos pernambucanos e nordestinos pelo país, como Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Lula Côrtes, Elba Ramalho, entre outros. Ao dar o primeiro play, quem tiver os ouvidos atentos vai perceber uma relação direta à canção “Como Dois Animais” de Alceu Valença, mesclada aos ecos vazios de “Solidão”, outro hino do consagrado bicho maluco beleza.
“Foi uma escolha consciente mergulhar nessa sonoridade criada por Paulo Rafael e Alceu nos idos dos anos 80. Há muito tempo que a obra de Alceu é um norte fundamental na minha construção artística, tendo eu também raízes familiares profundas no sertão, sempre me identifiquei com a forma como ele traduziu os aboios, baiões, cantorias, repentes e emboladas em seu trabalho, modernizando esse passado ao fundi-lo com elementos elétricos, como guitarras, sintetizadores e etc. Então brinco que fizemos um disco “Valenciano””, explica.
O novo trabalho terminou fazendo sentido também enquanto homenagem a Paulo Rafael, que a partir da participação em seu disco de estreia, “Movido a Vapor“, criou forte amizade com Tagore. O clipe traz imagens em VHS e atualizadas com imagens do artista em Barra de Jangada, que além de ser o nome da música é também o nome do álbum.
“Com o processo de luto, comecei a rever minha existência até ali, como um filme, tentando resgatar as primeiras imagens das quais me recordava. Fui parar então no ano de 1992, com 4 anos de idade, morando num bairro litorâneo chamado Barra de Jangada, com uma praia muito preservada na época. Quando defini a estética sonora que queria abraçar no disco, logo me veio a ideia de que deveria fundir o som às imagens que remontassem esse período no qual eu estava me referenciando. Pesquisando, encontrei no YouTube um acervo de vídeos gravado por japoneses em Recife na década de 80, que retratavam com exatidão muitos dos locais e situações praieiras presentes nas minhas lembranças. Então somei esse material a gravações minhas atuais e editei tudo de forma que houvesse uma liga visual entre todas as imagens, deixando uma vibe de clipe exibido no Fantástico em 1989′”, se diverte.
Para a capa, Tagore segue nas homenagens e traz um quadro de seu pai para ilustrar o single. “O disco como todo é uma grande homenagem a Paulo Rafael e meu pai. Ele era artista plástico, mas pouco fez para divulgar seu ótimo trabalho. Como muitas das suas obras giram em torno da temática litorânea, achei por bem selar essa homenagem com essas pinturas estampando as capas dos singles”, finaliza o Tagore.
“Barra de Jangada” está disponível em todas as plataformas de streaming, com clipe no canal do artista no Youtube, sai pelo Selo Estelita e tem produção do próprio Tagore ao lado de João Felipe Cavalcanti e Pedro Diniz, e mixagem de Mauro Arruda no Estúdio Sargaços e masterização de Leo D.